domingo, 13 de abril de 2014

Inodoro, incolor e insípido

'Num contexto geral, falta vibração ao time. Atuações mais convincentes, principalmente de jogadores de quem muito se espera'

Kelen Cristina - Superesportes
Tags: atleticomg 

Publicação:

11/04/2014 08:53
  

Atualização:

11/04/2014 17:57
Os números poderiam ser suficientes para entusiasmar o mais cético dos torcedores. Ao derrotar o Zamora por 1a 0 no Independência, o Atlético chegou ao 16º jogo de invencibilidade na temporada. Em 20 partidas sob o comando de Paulo Autuori, são apenas duas derrotas, sete empates e 11 vitórias, aproveitamento de 66,6%, com 33 gols marcados e 15 sofridos. Mas as estatísticas são tão frias quanto o futebol mostrado pela equipe alvinegra em 2014. Um estilo que está longe de empolgar. A cada fim de partida, por mais que o placar seja positivo, a impressão é de que o copo atleticano está sempre meio vazio.

Se o time está na final do Campeonato Mineiro, classificou-se com uma rodada de antecedência para as oitavas de final da Copa Libertadores e foi o primeiro do grupo, o que faltaria para enxergar o copo meio cheio? Seria exigência demais? Má vontade? Pessimismo exagerado? Talvez os jogadores e até o treinador do Galo pensem assim. Mas não, não é. O Atlético da teoria não é o mesmo da prática.

Num contexto geral, falta vibração ao time. Atuações mais convincentes, principalmente dejogadores de quem muito se espera, como Ronaldinho Gaúcho, Diego Tardelli (foto) e até Jô, que encerrou o jejum de três jogos sem balançar as redes. Quando as estrelas da companhia não brilham, elas acabam ofuscando também os companheiros menos favorecidos tecnicamente, que dependem da luz dos mais talentosos para brilhar.

Autuori não tem conseguido extrair as virtudes da maioria dos jogadores. A defesa está vulnerável. O meio-campo, inoperante - por mais que Pierre mostre seu espírito de luta e Guilherme seja o toque solitário de criatividade. E o ataque sofre com a falta de aproximação de seus integrantes.

Sabe aquele algo mais, característico dos campeões? Também não está lá. Até a simbiose com atorcida, que embalou o time na vitoriosa campanha na Libertadores do ano passado, não tem sido vista. A equipe parece funcionar num monótono piloto automático. Pior: num bate-e-volta burocrático, de área a área.

Dos 16 jogos da série invicta, pode-se afirmar que apenas em quatro o Atlético fez jus a elogios - se não nos 90 minutos, em parte deles. O time teve lampejos de bom futebol no segundo tempo contra o América, pela fase de classificação do Mineiro, quando virou o jogo para 3 a 2; no empate por 2 a 2 com o Nacional, em Ciudad del Leste, em que até mereceu vencer e acabou castigado com um gol no finalzinho (em um pênalti questionável, já que a bola bateu no braço de Otamendi); nos 4 a 1 sobre o América, pela primeira partida da semifinal do Estadual, quando passeou em campo; e em boa parte do primeiro jogo da decisão do Mineiro, empate por 0 a 0 com o Cruzeiro, quando mostrou uma discreta eficiência.

Nas demais partidas, o Galo foi inodoro, incolor e insípido. Goleadas, apenas sobre equipes de menor expressão no Mineiro. Na Libertadores, mesmo diante de adversários mais fracos tecnicamente que ele, o alvinegro não se impôs como poderia e, sobretudo, deveria - como contra o próprio Zamora.

Falta um futebol mais consistente para alicerçar os resultados e alimentar a expectativa em metas mais ambiciosas. Para muita gente, no futebol vale mais ganhar do que jogar bem. Certa vez, Muricy Ramalho disse que quem quisesse ver espetáculo deveria ir ao teatro. Mas vencer e convencer talvez ainda seja o atalho mais curto rumo aos títulos.

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